O Viajante.

Estava eu, como de prache, sentada na poltrona da sacada, com meu notebook no colo. Devia estar resolvendo alguma coisa sobre bancos, ou fazendo com que a minha inspiração voltasse, numa sexta-feira à tarde.
Apenas escutava o som dos carros na rua. As vezes alguém berrava, tirando toda a minha concentração.
Ouço, então alguém batendo à porta. Era definitivamente alguém. Não porque eu costumo receber visitas numa sexta-feira à tarde, mas porque a luz do hall estava acesa e dava pra ver duas sombras paralelas cortando a luz.
Pensei em algo como um visinho precisando de uma xícara de açúcar, pois o porteiro não interfonou.
Olhei pelo espelho mágico e tudo que eu vi foi um completo estranho. Ele sorria pra mim... medo e curiosidade se misturavam. A curiosidade venceu.
Era ele, o viajante. Obviamente viajava muito. Mas, especialmente o chamava assim porque foi este o motivo que ele me deixou, há exatamente uma década. Nos apaixonamos no verão de 98, mas ele era um aventureiro e eu tinha medo de viajar, não só de avião, mas de ônibus, trem e até mesmo carro. Até hoje só uso o carro para trabalhar e ir à lugares próximos... Então, o mundo conspirou. A paixão durou três meses. O bastante para se imortalizar dentro de mim.
Ele pegou o avião para Londres e me deixou agachada lá, chorando e implorando.
Mas agora, dez anos depois, ele está bem na frente de meus olhos. Estendido, portando apenas uma mala, e aquele olhar... Estava diferente. Era de "Bem, agora eu to aqui. O que nós iremos fazer?"
Tudo o que eu gostaria de fazer era beijá-lo, e levá-lo pra dentro.
Murmurou alguma coisa. Eu não o deixei transmitir uma só palavra. "Agora é tarde demais" foi isso que lembro ter dito. e só. Fechei a porta delicadamente. E tudo acaba com uma porta...
Fui me sentando lentamente, raspando minha blusa na porta até sentir o chão. E dalí não passava mais. Ele fez o mesmo, pois sentia uma força do outro lado da porta. Nossa respiração sempre teve um segundo de diferença, sendo assim, ouvia seus suspiros também, as lágrimas não demoraram a vir. Quando abre-se a porta do elevador. Fim do viajante, assim como partiu no avião, está agora partindo no elevador. Indo embora da minha vida pela segunda vez.
As lembranças mais concretas que tenho dele, são seus cartões postais, que nada serviram, além de aumentar a dor. E eu não vou mais sentir a dor. Adeus, viajante.

2 comentários:

Broto que triste... T___T

Espero que com a gente não seja assim. Oks.

Bjus, Miss you! =*

 

Ai que cigana internacional.

Compaixões na Inglaterra e tudo.

 

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